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21 de dezembro de 2015

Poemas de Juareiz Correya - Do Blog Poemas do Novo Século



Juareiz Correya  


Amanhece no Jardim Atlântico
Um horizonte recortado de edifícios
Figuras geométricas quase iguais
Engaiolando gentes cotidianos e futuros


Amanhece no Jardim Atlântico
E é difícil ver o sol
Impossível ver o mar
O bairro renasce azuis e vermelhos
Mais vivo como todo amanhecer
E indiferente ao medo e aos assaltos
Que povoaram suas ruas
Na noite anterior


Amanhece no Jardim Atlântico
E não é o mesmo amanhecer sobre Olinda
O bairro não é a cidade
A cidade não é o bairro
E o dia poderá ser tão inútil
Quanto a festa de cores de nuvens de pássaros
Da beleza perdida deste amanhecer



(Jardim Atlântico, Olinda  / 

 6 de junho, 2006) 




Juareiz Correya  


Uma mulher é mais
do que um corpo
uma música de arrepios
uma pintura de carícias
um jardim de sexo

Uma mulher é mais
do que uma função orgânica
o outro eu do homem
uma fantasia erótica
um pensamento carnal
uma vulva que fala

Uma mulher é mais
do que um pênis ao contrário
uma cabeça de nuvens
uma deusa de barro

Uma mulher é mais
do que um número humano
do que um drama vivo
uma tragédia em casa

Uma mulher é mais
do que um poema em flor
do que a inocência que mente
e a falsidade adorável
que inventa a verdade

Uma mulher é mais
do que a palavra mulher
é mais do que o homem
apenas em palavra é

Uma mulher é mais
do que um sonho uma ilusão
é muito mais do que ela
na dádiva inteira do coração



(Recife, maio  / 2006) 





Juareiz Correya  



meus olhos já não vêem direito
traços
           pontilhados
                               linhas do rosto
da cidade
da rua aberta das retinas
os sons matizados
as luzes grafadas
alfabetos da pele
códigos sensoriais
e as vias-lácteas
de intimidades e distâncias


meus olhos doem
um sol uma lua dias noites
que habito e desconheço
como se a tua presença
não estivesse no meu mundo
e desabitasse a memória
do corpo e da existência    


o que vive em ti é o meu olhar  


(Recife, abril / 2006) 


2 de julho de 2015

POEMAS DE INALDO CAVALCANTI



JORGE DE TODAS AS LUAS
 

Inaldo Cavalcanti


Para Iremar Marinho 

Jorge de todas as luas
Mestre de Orfeu
E servo da poesia
Menino eterno
Repleto
Da poesia universal
Recriada
Na fala brasileira
Te louvar
É amar
A noite e o dia
Nas asas sonhadas
Do Mundaú 



VAN CANTIGA A VINCENT


 Inaldo Cavalcanti


O vento visita o verde
No olhar maravilhado
De um homem menino.

Eu te vi no vento
- Loucura luminosa
Por um deus esquecida –
Invadir a janela
De um pobre calendário.

Eu te vi no vento
E me lembrei da vida.



                      
UM SABER SIMPLES VERTICALIZA A LUZ


Inaldo Cavalcanti


No carrossel inerte – humílimo mistério.
Eis um rosto.

A loucura que o rictus do Atlântico
Traduz em espumas – preciso golpe.
Eis o mesmo rosto.

Algo magoado cadencia a vida
E o recife ensina o êxtase silencioso do olhar




LONDON REVISITED


Inaldo Cavalcanti


Os espelhos nunca morrem:
Conspiram contra o silêncio.

Aturde a flor o vento rude.
Sangra nas raízes o mundo.

Perversa a minha dor:
De mim vive, e não me faz feliz




A DERROTA PASSADA A LIMPO


Inaldo Cavalcanti


Me fiz, e assim cantei a história
E assim perdi
O coração onde o banquete
Recusou o comer comum.

Sou pequeno: o passado
Já viveu o futuro.
Nada conduz à minha tristeza de sonhar.
Nada recria o pão da minha amizade.

Uma vez desprezada e pobre vigília,
Sou pobre.
Mendigo da melodia, louvo a Luz
E reencontro a doação da minha queda:
A ti, cordeiro guerreiro da origem.


INALDO CAVALCANTI  é natural de Recife (PE).  Estudioso de Filosofia e Psicanálise, publicou  O Livro do Esquecimento (2003).

26 de abril de 2015

LUIZ ALBERTO MACHADO E O SEU TATARITARITATTÁ

BESTIÁRIO ALAGOANO – Uma das pessoas que mais admiro na terra alagoana é a da pessoa do jornalista, advogado e publicitário Iremar Marinho. Figura ativa, expoente do melhor das Alagoas, ele edita o extraordinário blog Bestiário Alagoano do qual sou constante apreciador. Além disso é conveniente mencionar que se trata de um excelente poeta. E dele destaco o seu Poema Improvável, entre tantos que muito aprecio de sua lavra, principalmente o II: Viver é sempre desdenhar a morte, / a que vence todos os torneios, / aquela adversária desonesta, / detentora de segredos, / aquela que faz jorrar / o sangue dos contendores, / aquela que abate toda / ansiedade do poema, / que destrói covardemente / toda teima de viver. /Oh! Morte! Basta! Veja mais aqui.


22 de janeiro de 2015

MEUS POEMAS

Solau da morte

Iremar Marinho

A morte vem a cavalo
É próprio dela galopar

Os mortos esperam lívidos
É próprio deles esperar

Os mortos esperam túrgidos
É próprio da morte chegar

Os mortos esperam fúlgidos
Para o festim terminar

É próprio dos mortos vívidos
Do inferno esperar voltar

É próprio do inferno rúgido
Os mortos encarcerar


Todas as estátuas gregas são Homero, cegas


Iremar Marinho



Há um poema dentro do poema,
há um fluir de encantos surdos,
uma sinfonia de instrumentos mudos,
em busca de tons dispersos
da melodia em fuga da canção.

II

Dou meus versos,
falo em sussurro,
em baixa frequência,
como sibilasse.

Falo em língua surda,
eu tartamudeio,
dou meus braços,
meus artelhos,
meus cansaços,
meus joelhos.

III

Quem me lê, dê sua voz.
Compulsório ouvinte
da linguagem surda,
tradutor da fala,
co-autor imerso
no volúvel som.


Poema improvável


Iremar Marinho


Eu me escapei da morte.
Vivo. Adeus ao vôo.
Minha sintaxe agora é rastejante.
Não preciso mais romper os ventos,
só as agruras deste duro chão,
só a textura das pedras,
só a fuligem do tempo.

II

Viver é sempre desdenhar a morte,
a que vence todos os torneios,
aquela adversária desonesta,
detentora de segredos,
aquela que faz jorrar
o sangue dos contendores,
aquela que abate toda
ansiedade do poema,
que destrói covardemente
toda teima de viver.

Oh! Morte! Basta!