POEMA N. 21
Arriete Vilela
Hoje farejas indícios
de novas trilhas,
velas o teu coração tornado
ríspido, brumoso,
e vais às praças públicas colher
um súbito rosto.
Hoje tenho nos olhos
somente a dança das
estrelas cadentes
fazendo-se mar e poesia:
a minha melhor
porção diária de vida.
POEMA N. 26
Da janela sobre o mar,
sem saudades eu dou adeus
a mim mesma;
faço-me outra,
e nova.
Quero trazer-me alegre
à luz do dia ou da noite,
sossegar-me nas trovoadas,
evitar as esporas do vento
nos meus cabelos.
Inútil esforço,
Sei. Aos meus olhos
ola-se, diariamente,
uma alma de estopa áspera,
embora rara.
POEMA N. 28
Os meninos de rua
Parecem pardais urbanos:
em ligeiros vôos
acham-se em toda parte,
aproveitam restos de toda sorte.
Tropical
é algazarra de suas vozes,
quando se ajuntam;
seus gestos e jeitos,
de uma graça desavisada,
assustam e comovem.
Atentíssimo dever ser
o anjo da guarda dos meninos de rua,
esses tantos pardais urbanos.
POEMA N. 29
Vou me sabendo sem remansos.
Por vezes o mar estronda
dentro de mim
e tempestades medonhas me obrigam
a descer aos porões, a reconhecer-me
nas escotilhas fechadas da minha
incômoda solidão.
Difícil reconhecimento, porém.
Eu já sou muitas.
Meus olhos, é verdade,
ainda se mantêm amorosamente
indiscretos, e minha alma busca
da palavra as seduções segredosas
que me ardem no peito.
Mas já não me deixo
Possuir.