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4 de setembro de 2009

Meus poemas - Funeral coletivo na guerra espanhola

Iremar Marinho

Cadáveres de poetas
não servem para heroísmo.
Enterrem logo seus corpos.
Que suas algaravias
não rendam parcos discursos.

Cadáveres de poetas!
Sumam com eles das lápides!
Nem decompondo eles cessam
de comandar as trincheiras
na guerra contra os fascistas.

Cadáveres de poetas
ocupam largos espaços
das terras que se definham.
São feitos para o porvir
(seus ecos roucos retumbam).

Sua atemporal estética
são liames encarnados.
Descarnem logo seus corpos
para que não regorgeiem.
Que não vejam o Paraíso.

não haverá paraíso
nem amores desfolhados


Poetas vivos empestam
o ar da Espanha com versos,
corrompem o ar com silepses,
anástrofes, desestrofes,
com redondilhas sinistras.

Candentes hordas de arqueiros
(traças infra-racionais),
com licenças e silêncios
(com licenciosidades)
esperam coser o mundo.

Seus fantasmas insurgentes,
com armadilhas de rimas
(seus ritmares possessos),
são perigosos, conspiram
contra o ódio dos tiranos.

Seus estribilhos retornam,
suas canções todos solam,
seus ditirambos deliram,
por Baco se embriagam,
por musas se desvanecem.

São fortes contra o Tirano
(contra os cães no pedestal).
Só não resistem aos fuzis
dos criminosos fascistas
(a estese de facínoras).

Aterrem logo estes versos!
Poetas não deixem rastros!
Poemas não subsistam
sob a estese dos fuzis
do Tirano-General!

Não dobrem pelos defuntos.
Apressem seu desencanto,
na terra que vai sorvê-los.
Que jazam definitivos
no calcanhar dos tiranos.

Não esperem Federico
Garcia y bandarilleros,
que eles não voltarão.
Luminares de poetas,
seus rastros são luminosos.


Neste momento dramático
do mundo, o artista deve
chorar e rir com o seu povo.

1 de setembro de 2009

Melhores poemas que eu li - Espiritualidade

Walt Whitmann

Quero fazer os poemas das coisas materiais,
Pois imagino que esses hão de ser
Os poemas mais espirituais.

E farei os poemas do meu corpo
E do que há de mortal.
Pois acredito que eles me trarão
Os poemas da alma e da imortalidade.

E à raça humana eu digo:
-Não seja curioso a respeito de Deus,
Pois eu sou curioso sobre todas as coisas
E não sou curioso a respeito de Deus.

Não há palavra capaz de dizer
Quanto eu me sinto em paz
Perante Deus e a morte.
Escuto e vejo Deus em todos os objetos,
Embora de Deus mesmo eu não entenda
Nem um pouquinho...

Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa demais?
Por mim, de nada sei que não sejam milagres...
Cada momento de luz ou de treva
É para mim um milagre,
Milagre cada polegada cúbica de espaço,
Cada metro quadrado de superfície
Da terra está cheio de milagres
E cada pedaço do seu interior
Está apinhado de milagres.

O mar é para mim um milagre sem fim:
Os peixes nadando, as pedras,
O movimento das ondas,
Os navios que vão com homens dentro
- Existirão milagres mais estranhos?


Poeta norte-americano (morreu em 1892, em Camden, Estado de New Jersey)