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19 de setembro de 2009

Meus poemas - Concerto para flauta-vértebra

Iremar Marinho

Em vez de poeta, sou
o homem do megafone.
Com a palavra no trombone,
anuncio, à luz do dia,
toda tessitura lírica,
todo poema do mundo
para ruir num instante.

Se eu me chamasse Raimundo,
se eu conhecesse Drummond,
se eu visse Pedro Nava,
ruiria num segundo
todo edifício de ossos,
toda escultura-palavra.

Se fosse eu Mayakovski,
seguraria o gatilho
da palavra invertebrada
da revolução vencida
por um tiro atrás da porta.

Todo poema do mundo,
toda construção-palavra
ruindo por um instante,
no lampejo do estampido,
num sopro da flauta-vértebra.

(A mais-valia da bala,
o mundo em desabalada,
uma balada de outubro,
um tiro no dia rubro
ruiu a farsa delírica
da revolução-malogro).

Eu não me chamo Raimundo,
nem Drummond nem Pedro Nava,
só choro às margens do Neva
junto aos mortos de Akhmátova.


(26 de abril de 2009)

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